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Os problemas reais que podem diminuir a produção de leite materno

Conversamos com uma especialista para entender de que modo eles afetam a amamentação, como identificá-los e também o que fazer

Por Da Redação
20 jan 2023, 10h23

Se você não tiver informação confiável e uma rede de apoio, pode pensar que o motivo pelo qual seu recém-nascido chora sem parar é a fome. “Será que tenho pouco leite?” Essa ainda é uma dúvida comum para mães de primeira viagem, instigada, muitas vezes, por palpites de quem pouco (ou nada!) entende do assunto. A intenção talvez seja até boa, mas acaba atrapalhando a continuidade do aleitamento materno e fazendo com que várias mulheres desistam de amamentar, oferecendo uma mamadeira com leite artificial, sem necessidade – e aí, sim, reduzindo a produção, pela falta de estímulo de sucção do bebê. No entanto, além do desconhecimento, existem mesmo casos que têm como consequência a diminuição da produção de leite materno, embora sejam raros.

A hipogalactia (baixa produção de leite) e a agalactia (quando não há nenhuma produção de leite) afetam apenas 1% das mulheres no mundo. Na maioria das vezes, portanto, o problema é outro. “A melhor forma para avaliar se há baixa produção é acompanhando o recém-nascido na primeira semana de vida após o parto”, afirma a pediatra Rossiclei Pinheiro, presidente do Departamento Científico de Aleitamento Materno da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). “Muitas mães confundem o choro do bebê, as mamadas frequentes e a dificuldade no sono com associação a leite fraco ou pouco leite. Neste momento, é importante ter uma rede de apoio com pessoas que acalmem essa mulher, em vez de aumentar a insegurança dela quanto à saúde da criança”, explica.

A produção de leite depende de mecanismos hormonais, a partir do hormônio prolactina, e excreção do leite, pelo hormônio ocitocina. “É necessária a sucção do bebê no seio para que estes hormônios se mantenham em níveis altos após a saída da placenta, no parto. Tudo começa a se estabilizar na primeira hora de vida, quando o bebê saudável deve ficar no contato pele a pele com a mãe. A amamentação deve se iniciar na sala de parto, se a mulher assim desejar”, orienta a especialista. O leite materno é produzido conforme a demanda. Quanto mais o bebê suga, mais o corpo entende que deve produzir e ejetar.

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Alguns problemas de saúde da mãe, como estresse, desnutrição e desidratação também podem diminuir a produção de leite. Então, é preciso que ela passe por uma avaliação, para entender se há alguma condição e quais são as correções ou tratamentos necessários, dependendo da situação. É possível ainda que a mulher tenha algum distúrbio ou falha hormonal que afete o funcionamento dos hormônios envolvidos na produção e na ejeção do alimento. E não são todos, porém, em alguns casos, quem passou por cirurgias de redução mamária também pode não conseguir amamentar.

Como reconhecer a baixa produção do leite materno?

O choro da criança, sozinho, não significa que a mãe está produzindo pouco leite. Afinal, é normal e esperado que um recém-nascido chore, já que está se adaptando a um mundo totalmente novo. Rossiclei explica que há outros sinais aos quais a família e o pediatra devem ficar atentos para identificar uma possível hipogalactia. “Quando há baixa produção de leite materno, o bebê não fica satisfeito após as mamadas e o tempo de mamadas é muito longo – apesar de isso também ser relativo. Ele também demora a recuperar o peso de nascimento, o que, geralmente, ocorre entre 10 e 20 dias de vida”, diz a especialista. “Nestes casos, as micções são infrequentes”, acrescenta. Ou seja, a criança faz menos xixi e os pais precisam trocar a fralda menos de seis vezes por dia. Em algumas situações mais severas, é possível haver ausência de urina por mais de 24 horas.

Diante desses sintomas, é importante analisar o cenário junto com o pediatra, que deverá fazer um diagnóstico clínico ou até solicitar exames para, só então, avaliar se há um quadro de hipogalactia ou agalactia. Então, as razões serão investigadas e, se possível, tratadas.

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Principais causas de queda na produção do leite materno

De acordo com a pediatra, a hipogalactia está diretamente relacionada a fatores que diminuem a extração do leite do peito. Algumas delas podem ser:

  • pega errada do bebê no seio;
  • posicionamento do bebê;
  • horário de mamadas mal regulado (sendo que o ideal é manter a livre demanda);
  • uso de bicos artificiais, como mamadeira ou chupeta.

Tudo isso pode ser corrigido com ajuda de médicos amigos da amamentação, enfermeiros, consultoras de amamentação e profissionais dos Bancos de Leite Humano.

“A amastia, que é quando há alteração no desenvolvimento da glândula mamária [causando baixa produção ou baixa ejeção] é rara”, afirma Rossiclei. A especialista lembra ainda que a dificuldade na pega, que resulta na baixa da produção, pode ser consequência de alguma alteração orofacial do bebê, como a anquiloglossia (língua presa) ou queixo curto.

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“Vale ressaltar que a ansiedade materna, a dor no pós-parto, o cansaço e estresse depois do nascimento, assim como o uso de alguns medicamentos, também são capazes de influenciar a saída do leite do peito e isso pode diminuir a saciedade do bebê”, lembra a médica.

ilustração de dois seios. De um deles, sai uma gota de branca
(Iryna Shkrabaliuk/Getty Images)

Amamentação: como aumentar a produção de leite?

Com a constatação, feita em conjunto por profissionais de saúde e a família, de que há baixa produção de leite por falta de estímulo ou estímulo inadequado de sucção, é importante agir o quanto antes para reverter o quadro e possibilitar a continuidade da amamentação. É hora de fazer alguns ajustes.

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“A melhor conduta é avaliar toda a técnica da amamentação e a pega do bebê ao seio para a correção de possíveis dificuldades, e aumentar a frequência das mamadas para que haja mais estímulo”, sugere Rossiclei.

A livre demanda é um dos principais pontos, segundo a profissional. “Quando o bebê mama rápido e com pouca frequência, com limitação de horários, isso influencia diretamente na produção. As mamadas devem ser livres de horários”, ressalta.

Nas primeiras duas semanas, é comum ter leite materno excedente, então, a mãe pode ser orientada a extrair e a conservar o alimento. Se necessário, ela poderá usá-lo para suplementar a amamentação. Nestes casos, reforça a especialista, o ideal é usar a técnica de translactação, para evitar desmame precoce. Nesse método, uma sonda é usada junto ao peito para oferecer o leite à criança. Assim, ela estimula a produção, enquanto recebe o leite que já foi extraído.

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A mãe deve esvaziar a mama após cada mamada, oferecendo, se possível, os dois seios na mesma mamada. Também é importante evitar o uso de chupetas, mamadeiras e mamilos intermediários (bicos de silicone). Além disso, a mulher precisa dormir e descansar, contando com uma rede de apoio, alimentar-se bem, sem fazer dietas restritas, e ingerir bastante líquido”, sugere a pediatra.

Há, no mercado, alguns medicamentos, chás e até recomendações de dietas ou alimentos específicos que prometem aumentar a produção. No entanto, segundo a médica, não há evidências científicas suficientes que comprovem a eficácia desses artifícios. “A melhor conduta é ajustar a pega ao seio. O uso de medicamentos deve ser evitado”, diz.

Mães de UTI

Há alguns casos em que a mãe tem maior dificuldade para estabelecer a rotina de aleitamento. Um dos mais emblemáticos é quando o bebê nasce prematuro ou, por algum outro motivo, precisa ficar na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal e não pode ser amamentado nas primeiras semanas de vida.

Nestas situações, de acordo com Rossiclei, as mães precisam ser encaminhadas ao Banco de Leite Humano da maternidade, onde serão orientadas sobre como manter a produção de leite e as melhores maneiras de oferecer o alimento ao recém-nascido, além do procedimento de doação a outras crianças que estão no local, se possível.

“Quando o bebê fica muito tempo internado sem sugar no seio, principalmente no caso dos prematuros extremos, pode haver diminuição na produção por falta de sucção e ser necessário fazer a chamada relactação”, conta a médica. O leite do banco de leite humano ou a fórmula adequada, portanto, podem ser oferecidos com a sonda, também junto ao seio da mãe, com orientação do pediatra e avaliações constantes do bebê.

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